#79 – Os pobres de direita e o futuro da política


Se a esquerda é a ideologia que mais se preocupa com os pobres, por que existem pobres de direita? No decorrer da história, inspirados sobretudo pelas teorias marxistas, boa parte dos pensadores de esquerda têm atribuído este fenômeno à manipulação e à desinformação.

As classes dominantes manipulam os meios de comunicação e a opinião pública e usam ferramentas diversas para fazer as classes oprimidas acreditarem em narrativas relacionadas à meritocracia, ao estado mínimo e à liberdade de mercado.

Recentemente, contudo, uma área de estudos chamada neurociência política, ou biopolítica empírica tem apontado em outra direção. Esse campo de estudos une elementos de sociologia, psicologia e neurociência. E tem mostrado que, além dos  componentes culturais e históricos na inclinação ideológica, existem também componentes biológicos e genéticos.

Entrevistado do episódio

Cientista social, divulgador científico e doutorando em Ciência Política na Unicamp, com estágio doutoral no Center for Brain, Biology and Behavior – CB3 da Universidade de Nebraska-Lincoln, EUA. Criador do canal do YouTube e perfil do Instagram Política na Cabeça.

 

Episódios relacionados

71: Por que votam no mito?

76: Os últimos comunistas

Mergulhe mais fundo

Sobre o conservadorismo aumentar com a desigualdade: Inequality and the Dynamics of Public Opinion: The Self-Reinforcing Link Between Economic Inequality and Mass Preferences

Estudo sobre inclinação ideológica usando polígrafo: Political A olitical Attitudes V ttitudes Vary with Physiological T y with Physiological Traits

Estudo sobre inclinação ideológica usando monitoramento do movimento ocular: The political left rolls with the good and the political right confronts the bad: connecting physiology and cognition to preferences

Estudo sobre preferências políticas entre gêmeos: Are Political Orientations Genetically Transmitted?

Ficha técnica

Trilha sonora tema: Paulo Gama,

Mixagem: João Victor Coura

Design das capas: Cláudia Furnari

Concepção, roteiro, e edição: Tomás Chiaverini


7 comentários em “#79 – Os pobres de direita e o futuro da política

  1. Acabei de ouvir o episódio, e tive a nítida sensação de que ele vai, continuar relevante (por no mínimo) os próximos 20 anos.🤯 Em outras palavras: NASCEU UM “CLÁSSICO CONTEMPORÂNEO” DO JORNALISMO BRASILEIRO.🍷🗿

  2. Gostei muito desse episódio.
    Deixo duas sugestões de pauta:
    1. Rico de esquerda.
    2. Com a derrota da direita extremista no poder executivo, como ficam ou qual seria o papel da mídia de esquerda nos próximos 04 anos? Seria apenas monitoramento do legislativo ou deveria continuar cobrando pautas afirmativas da esquerda e que muitas vezes serão abandonadas no próximo governo.

    Seu podcast foi a melhor surpresa para minha fase pós pandemia. Muito obrigado pelo trabalho de vocês e espero um dia poder contribuir.

  3. Sou Thiago Barison, ouvinte, apoiador e admirador da Rádio Escafandro e gostaria de compartilhar um comentário crítico sobre o último episódio, #79 “Os pobres de direita e o futuro da política”.

    1. Os ditos princípios fundamentais que dividiriam “o que é ser de esquerda e o que é ser de direita” simplifica demais a questão e acaba por impedir a devida consideração de contradições no interior dos campos políticos opostos, contradições que, contudo, não os descaracterizam enquanto tais. Ignora a existência de uma direita libertária, por exemplo. Ou de um “neoliberalismo progressista”, identificado por Nancy Fraser, isto é, regressivo do ponto de vista socioeconômico, porém “progressista” em relação a direitos civis e políticos de minorias.

    2. O “pacote fechado” direita vs. esquerda proposto no episódio dificulta, ainda, a consideração da conjuntura, que torna relativas e hierarquiza as posições de diferentes setores sociais e em diferentes temas. É certíssimo que a classe camponesa é bastante impactada pelo conservadorismo no plano dos costumes; porém, a sua luta por reforma agrária e sua participação em aliança com o operariado nas principais revoluções do século XX, por uma conjunção de fatores, dá-lhe um caráter marcadamente progressista. Trago para o exemplo brasileiro mais próximo: é inegável que tanto a classe operária (também conservadora nos costumes, porém menos que o campesinato) quanto o campesinato brasileiro transformaram o caráter político geral da transição democrática nos anos 1970-1980; ao entrarem na cena política, de início por seus interesses sociais e econômicos, por força de uma conjuntura de fatores, dinamizaram a transição que vinha sendo feita pelo alto, “lenta, gradual e segura” e permitiram avanços políticos diversos, como os que constam da Constituição de 1988 (hoje sob ameaça). Portanto, não é necessário que todos os setores sociais, sequer que a maioria desses setores sejam progressistas em todas dimensões para que, sob determinadas condições políticas conjunturais, tenham um papel político pra lá de progressista.

    3. Vivemos um período histórico reacionário, desde pelo menos 1979. Um conjunto de fatores permite essa correlação de forças desfavorável ao movimento operário, popular e à esquerda em geral, fatores que não cabe aqui ventilar, sob pena de alongar demais o comentário. Importa apenas dizer que esses fatores, a conjuntura, a correlação de forças são as determinações principais para se explicar o maior ou menor avanço das ideias transformadoras e das lutas dos explorados e oprimidos, muito à frente de supostas determinações genéticas, “drivers” de “viés de negatividade”, medo, empatia ou egoísmo etc., se é que esses aspectos têm alguma utilidade explicativa.

    4. A tese contida n´A ideologia alemã de que as ideias dominantes de uma época são as ideias da classe dominante demarca um ponto de partida materialista para a ciência social e uma ideia geral, vale frisar, geral, para a análise dos modos de produção social, isto é, grandes épocas históricas, num alto nível de abstração. Exemplo: no escravismo e no feudalismo as ideias inigualitárias são dominantes, ao passo que no capitalismo são dominantes as ideias de igualdade jurídica, de que a riqueza vem do trabalho ou da competição meritória. A partir daí é preciso analisar cada classe social e fração de classe e em diferentes sociedades e conjunturas dessas sociedades. O marxismo tem mais de 100 anos de pesquisas que são solenemente ignoradas pelo entrevistador e pelo entrevistado. Classe operária, trabalhadores da massa marginal, classes médias, pequena e média burguesias, as diferentes frações burguesas etc.: para cada fração há anos e anos de pesquisas marxistas; na Unicamp mesmo, citada no episódio, há especialistas em cada um desses campos de estudo. Cito os professores Armando Boito Jr., Andréia Galvão e Sávio Cavalcante. Tudo isso cai na vala comum do “velho paradigma de mais de 170 anos” e em oposição às incensadas “pesquisas recentes”, que estariam a nos mostrar “que as coisas não são bem assim…”.

    5. Com o máximo respeito, o ponto de partida da “biopolítica empírica” é perigosíssimo, temerário e muitíssimo antigo, para dizer o mínimo. A biologia é simplesmente o terreno privilegiado de toda naturalização, inimiga número um da Ciência Social. Há inúmeros autores que buscam naturalizar os pressupostos do capitalismo, do mercado, da concorrência neste ou naquele gene herdado da sobrevivência (cito Jordan Peterson). Assim como houve autores que buscaram fundamentar a possibilidade de uma sociedade igualitária nesta ou naquela característica positiva da “natureza humana”, ainda que antropologizada. No entanto, a ciência social nasce justamente da ruptura com esse ponto de partida. E Marx é o principal responsável por essa ruptura epistemológica, que deixa de lado as perguntas em torno do que é o homem ou a natureza humana e passa a vê-los, o ser humano e qualquer coisa que se aproxime de sua “natureza”, como determinados socialmente. A sociedade e, dentro dela, a classe, a cultura etc. filtram e submetem todo o resto. E num nível de radicalidade absolutamente incompatível com o ponto de partida do episódio. Veja-se a monumental pesquisa de Simone de Beauvoir, por exemplo, que logra desnaturalizar até mesmo a identidade de gênero.

    Será que o mergulho não poderia ir mais fundo com outras fontes, outras opiniões, o contraditório por meio de professores/as e autores/as que defendem os pontos de partida e teses criticados ao longo da discussão?

    Abraço, Thiago Barison de Oliveira.

  4. Olá a todos. Sou Thiago Barison, ouvinte, apoiador e admirador da Rádio Escafandro e gostaria de compartilhar um comentário crítico sobre o último episódio, #79 “Os pobres de direita e o futuro da política”.

    1. Os ditos princípios fundamentais que dividiriam “o que é ser de esquerda e o que é ser de direita” simplifica demais a questão e acaba por impedir a devida consideração de contradições no interior dos campos políticos opostos, contradições que, contudo, não os descaracterizam enquanto tais. Ignora a existência de uma direita libertária, por exemplo. Ou de um “neoliberalismo progressista”, identificado por Nancy Fraser, isto é, regressivo do ponto de vista socioeconômico, porém “progressista” em relação a direitos civis e políticos de minorias.

    2. O “pacote fechado” direita vs. esquerda proposto no episódio dificulta, ainda, a consideração da conjuntura, que torna relativas e hierarquiza as posições de diferentes setores sociais e em diferentes temas. É certíssimo que a classe camponesa é bastante impactada pelo conservadorismo no plano dos costumes; porém, a sua luta por reforma agrária e sua participação em aliança com o operariado nas principais revoluções do século XX, por uma conjunção de fatores, dão-lhe um caráter marcadamente progressista. Trago para o exemplo brasileiro mais próximo: é inegável que tanto a classe operária (também conservadora nos costumes, porém menos que o campesinato) quanto o campesinato brasileiro transformaram o caráter político geral da transição democrática nos anos 1970-1980; ao entrarem na cena política, de início por seus interesses sociais e econômicos, por força de uma conjuntura de fatores, dinamizaram a transição que vinha sendo feita pelo alto, “lenta, gradual e segura” e permitiram avanços políticos diversos, como os que constam da Constituição de 1988 (hoje sob ameaça). Portanto, não é necessário que todos os setores sociais, sequer que a maioria desses setores sejam progressistas em todas dimensões para que, sob determinadas condições políticas conjunturais, tenham um papel político pra lá de progressista.

    3. Vivemos um período histórico reacionário, desde pelo menos 1979. Um conjunto de fatores permite essa correlação de forças desfavorável ao movimento operário, popular e à esquerda em geral, fatores que não cabe aqui ventilar, sob pena de alongar demais o comentário. Importa apenas dizer que esses fatores, a conjuntura, a correlação de forças são as determinações principais para se explicar o maior ou menor avanço das ideias transformadoras e das lutas dos explorados e oprimidos, muito à frente de supostas determinações genéticas, “drivers” de “viés de negatividade”, medo, empatia ou egoísmo etc., se é que esses aspectos têm alguma utilidade explicativa.

    4. A tese contida n´A ideologia alemã de que as ideias dominantes de uma época são as ideias da classe dominante demarca um ponto de partida materialista para a ciência social e uma ideia geral, vale frisar, geral, para a análise dos modos de produção social, isto é, grandes épocas históricas, num alto nível de abstração. Exemplo: no escravismo e no feudalismo as ideias inigualitárias são dominantes, ao passo que no capitalismo são dominantes as ideias de igualdade jurídica, de que a riqueza vem do trabalho ou da competição meritória. A partir daí é preciso analisar cada classe social e fração de classe e em diferentes sociedades e conjunturas dessas sociedades. O marxismo tem mais de 100 anos de pesquisas que são solenemente ignoradas pelo entrevistador e pelo entrevistado. Classe operária, trabalhadores da massa marginal, classes médias, pequena e média burguesias, as diferentes frações burguesas etc.: para cada fração há anos e anos de pesquisas marxistas; na Unicamp mesmo, citada no episódio, há especialistas em cada um desses campos de estudo. Cito os professores Armando Boito Jr., Andréia Galvão e Sávio Cavalcante. Tudo isso cai na vala comum do “velho paradigma de mais de 170 anos” e em oposição às incensadas “pesquisas recentes”, que estariam a nos mostrar “que as coisas não são bem assim…”.

    5. Com o máximo respeito, o ponto de partida da “biopolítica empírica” é perigosíssimo, temerário e muitíssimo antigo, para dizer o mínimo. A biologia é simplesmente o terreno privilegiado de toda naturalização, esta, por sua vez, inimiga número um da Ciência Social. Há inúmeros autores que buscam naturalizar os pressupostos do capitalismo, do mercado, da concorrência neste ou naquele gene herdado da sobrevivência (cito Jordan Peterson). Assim como houve autores que buscaram fundamentar a possibilidade de uma sociedade igualitária nesta ou naquela característica positiva da “natureza humana”, ainda que antropologizada. No entanto, a ciência social nasce justamente da ruptura com esse ponto de partida. E Marx é o principal responsável por essa ruptura epistemológica, que deixa de lado as perguntas em torno do que é o homem ou a natureza humana e passa a vê-los, o ser humano e qualquer coisa que se aproxime de sua “natureza”, como determinados socialmente. A sociedade e, dentro dela, a classe, a cultura etc. filtram e submetem todo o resto. E num nível de radicalidade absolutamente incompatível com o ponto de partida do episódio. Veja-se a monumental pesquisa de Simone de Beauvoir, por exemplo, que logra desnaturalizar até mesmo a identidade de gênero. Se o princípio teórico que move a dita biopolítica for aplicada à mulher resultará em machismo elevado à décima potência.

    6. E os genes da negatividade ou positividade sequer explicam qualquer coisa. Ancestrais do ser humano observando o pôr do sol nas savanas africanas em oposição à caça, à sobrevivência etc. Muito complicado. Pois logo surgiu a arte rupestre e quanto mais desenvolvida uma sociedade, quanto mais apta a sobreviver, mais desenvolveu atividades que estariam no dito gene da mudança e não no da conservação… Enfim. Uma enorme confusão.

    Será que o mergulho não poderia ir mais fundo com outras fontes, outras opiniões, o contraditório por meio de professores/as e autores/as que defendem os pontos de partida e teses criticados ao longo da discussão?

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.